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"Matador de abelhas" conheça o agrotóxico que sofreu restrições pelo Ibama


por G1

Sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024 - 12h00

Fonte: G1


Decisão proíbe a aplicação de produtos com fipronil em folhas e flores, para proteger insetos polinizadores. Agricultores ainda podem usar o componente ativo no solo.


Desde 2 de janeiro, o agrotóxico fipronil está suspenso para aplicação em folhas e flores, para proteger insetos polinizadores, como as abelhas. A proibição veio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).


O fipronil é um componente usado em inseticidas, produtos contra cupins e formigas e, apesar da restrição no campo, pode ainda ser encontrado nos supermercados em produtos do cotidiano, como no controle de carrapato e pulgas nos pets.


Na lavoura, ele pode ser usado em diversos tipos de culturas, mas é mais popular em plantios de soja, cana-de-açúcar e algodão.


O Brasil não é o primeiro país a dar um passo para trás em relação ao fipronil. O Uruguai foi pioneiro e baniu o agrotóxico em 2009. Depois vieram a União Europeia (2013), o Vietnã (2019), a Costa Rica (2022) e, no ano passado, a Colômbia. A África do Sul é outro país onde o seu uso é proibido.


Segundo o Ibama, a razão da medida cautelar é que "as avaliações já realizadas indicam a potencial existência de risco ambiental inaceitável às abelhas, decorrente da deriva da pulverização, para todos os produtos à base de fipronil com indicação de uso via aplicação foliar", ou seja, em folhas.


O comunicado da instituição determina ainda que as empresas que tenham o registro de agrotóxicos com fipronil publiquem um comunicado de advertência sobre o componente ativo em até 90 dias.


O fipronil, que ganhou a fama de "matador de abelhas", também está sendo reavaliado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), após ser identificado como um produto com "potenciais riscos à saúde não identificados no momento da concessão de registro", explicou o órgão em nota ao g1.


Contudo, a agência alega que a reavaliação não foi feita ainda porque foram selecionados para análise outros produtos com maior prioridade na matriz de riscos utilizada pela instituição.


O que é o fipronil

O fipronil é o principal componente ativo para controlar insetos sociais, aqueles que formam colônias, como formigueiros e cupinzeiros, aponta Roberto Araújo, diretor de Defensivos Químicos na CropLife Brasil e membro do comitê-executivo da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.).


Para matar esses insetos, o fipronil causa um bloqueio nos canais nervosos deles. Então, os insetos são hiperestimulados e morrem, explica Araújo.


Entenda como o fipronil mata as abelhas


Entenda como o fipronil mata as abelhas


Porque ele ganhou fama de "matador das abelhas"

Existem duas maneiras de se aplicar o fipronil na lavoura: terrestre (na forma sólida, diretamente no solo) e aérea (forma líquida, sobre folhas e flores), que é espirrado em forma líquida nas folhas e flores, explica Osmar Malaspina, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pesquisador sobre o efeito do fipronil nas abelhas.


Na forma aérea, o agrotóxico pode ser levado para lugares que não precisam do controle de pragas, matando as abelhas do local, aponta. Foi este modelo o proibido pelo Ibama.


Malaspina explica que, até 2011, a empresa desenvolvedora do produto possuía a sua patente. Na época, o agrotóxico era usado apenas para controle de insetos no solo nos cultivos de cana-de-açúcar e para controlar pragas em sementes, sem ser aplicado no campo na sua forma líquida e, portanto, sem afetar as abelhas.


Com a queda da patente, outras empresas começaram a comercializar o fipronil e em outras formas, dando início à sua aplicação em folhas e flores de forma aérea, contaminando as abelhas.


Foi aí que o fipronil se tornou o agrotóxico que mais mata abelhas, diz o pesquisador.


Malaspina fez parte de um estudo feito em uma parceria da Unesp, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), que monitorou as ocorrências de mortes massivas de abelhas no estado de São Paulo. O resultado, publicado em 2017, apontou o fipronil em 70% dos casos.


Os dados se referem apenas a mortes de abelhas criadas por apicultores, não foi possível ainda desenvolver uma análise dos insetos livres na natureza, explica o pesquisador.


Por causa disso, mesmo antes dessa decisão mais recente do Ibama, já era proibido aplicar fipronil durante a época das floradas, para evitar a contaminação das abelhas, que são importantes colaboradoras na produção de alimentos.


Mais de 70% da polinização das espécies de plantas na produção de alimentos é feita por abelhas, diz Malaspina. É o caso, por exemplo, da maçã, do maracujá e do café.


Por isso, a agricultura e a apicultura são atividades que se complementam, aponta Araújo, da CropLife Brasil. Com o uso de abelhas nas lavouras, a produtividade e a qualidade dos cultivos aumentam, explica.


O que realmente muda com a medida do Ibama

O fipronil tem seus efeitos estudados desde 2012, mas só agora o Ibama obteve dados satisfatórios para tomar a medida, diz Malaspina.


Com a decisão, o fipronil não está proibido nas lavouras, mas fica proibida a sua aplicação nas folhas e nas flores, portanto ele ainda pode ser aplicado nas sementes e no solo.


Mas isto não significa que todos os problemas estão resolvidos, diz o professor: "Falam: "Está lá no solo, não vai matar abelha". Mas vai chover em cima, vai contaminar o rio lá na frente, vai matar peixe", diz.


Ainda assim, para novas medidas, seria preciso mais pesquisas sobre as consequências, aponta.


Setor pego de "surpresa"

Para Araújo, diretor de Defensivos Químicos na CropLife Brasil, a surpresa na medida cautelar do Ibama é a suspensão imediata do uso do produto na aplicação foliar.


"Esse tipo de coisa traz uma insegurança jurídica, traz aspectos que afetam economicamente as indústrias, os revendedores e os próprios agricultores que fazem a utilização dessa tecnologia", afirma.


Para ele, seria preciso ter um período de transição para que os produtos em estoque fossem usados e para que o setor pudesse encontrar alternativas ao fipronil.


O diretor diz ainda que, quando aplicado corretamente, os danos do fipronil são minimizados: "O produto fica aderido na semente, né? Então, quando é semeada, ela é colocada dentro do solo, ela é coberta e não tem contato com abelhas", diz.


Para Araújo, o fipronil acabou sendo "vilanizado" pela facilidade de ser diagnosticado nas mortes das abelhas, mas que o real culpado é a aplicação errada dos produtos. Ele ressalta ainda a importância da tecnologia desta molécula para controle de insetos, como os cupins e formigas.


Tem como evitar a morte das abelhas na agricultura?

Tanto para o pesquisador da Unesp Malaspina quanto para o diretor de Defensivos Químicos na CropLife, Araújo, o primeiro passo é o uso correto dos agrotóxicos, para evitar que as abelhas tenham contato com eles e morram.


Uma das formas de se fazer isso, por exemplo, é priorizar aplicações no final da tarde e à noite, quando elas não estão colhendo o pólen.


Outra atitude importante é que o apicultor e o agricultor tenham uma boa relação, deste modo ambos combinam os dias de aplicação dos agrotóxicos, podendo existir uma programação para as abelhas ficarem retidas em suas caixas e seguras.


Além do uso de agrotóxicos, Melaspina ressalta a importância dos defensivos biológicos no combate às pragas nas lavouras, diminuindo o uso de produtos tóxicos às abelhas.


"Já existe técnica e conhecimento científico disponível para que as pessoas consigam promover a convivência harmônica entre agricultura e apicultura", afirma Araújo.


Matéria originalmente publicada em: "Matador de abelhas" conheça o agrotóxico que sofreu restrições pelo Ibama



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